Tuesday, February 09, 2010

(roxo :: pequena história por acabar)



Três velas roxas em três castiçais longos e de ferro negro alumiavam a pequena sala.
Não se ouvia ruído algum senão o do vento a sibilar na janela fechada.
A criança dormia num sofá comprido e de veludo, enroscada sobre si mesma, de respiração inaudível.
O gato preto passou, furtivo, nas sombras. Velava-a, inquieto.
Era Inverno e fazia mesmo muito frio lá fora. Mas, nem o gato, nem a criança, o sentiam.
Já estavam acostumados.
Uma pequena criatura, estranha e prateada, bateu as minúsculas asas mecânicas e voou, suave e silenciosa, até perto do rosto da criança adormecida.
- Criança-flor, chamou. Acorda, por favor. Sim?
Havia dias que a criança estava a dormir, o que era deveras preocupante. No último dia em que saíra de casa, pedira para ir sozinha. Demorara horas. Quando voltou, parecia exausta, como se tivesse caminhado através de muitos continentes. Sentara-se no sofá comprido e de veludo e adormecera.
Desde então, não mais acordara.

Flores gigantescas, de cores algo pálidas e de formas algo estranhas e sinuosas, habitam este mundo, não vês? E anjos caminham, de pés descalços, por entre pedras aguçadas e por entre estilhaços de gelo que exalam vapores sem se magoarem.

Dasha entrou na sala. O gato preto esgueirou-se e foi ter com ela, segredando-lhe imobilidades.

(...)

2ª parte aqui

:: arte aconselhada para esta semana: . Blindside - 'Ask Me Now' | 'A História Interminável', de Michael Ende