Saturday, April 10, 2010

(aos anjos cúmplices...)


aos anjos cúmplices…


dão-se pássaros cor de céu


e bagas vermelhas e doces.


Fala-se em sussurros, soluçando,


pelos que já jazem em sossego.


Calam-se os lábios sangrentos com

mel de rosmaninho,


e cobre-se a pele de cor fúnebre

com um manto bordado a estrelas.


E o cheiro, a maresia. Ou a incenso.

Perpassa e funde-se na alma. No ser.


Dão-se pulseiras de prata,

aos anjos cruéis que nos escolhem a porta,

deixando um rasto de palavras rabiscadas

pelo chão, pela superfície de tijoleira.



anjos, anjos encovados,

anjos mendigos

o são.


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já não há palavras. já não chegam aos lábios. aos dedos.
não estremecem sequer, nem tentam procurar por dríades e ondinas para lhes passar ao de leve pelos cabelos, como outrora, naquelas noites mornas doces de mel.
não há crença, somente descrença e desilusão e engano.
somente prudência. e uma sensação de abismo.
queima-te para que saibas
e atira-lhe sal, envolve areia em papel de algas e de brumas.