Monday, June 13, 2011

(roxo :: pequena história por acabar) continuação 3

1ª parte aqui
2ª parte aqui


Estavam flores pálidas na árvore e no chão em frente ao banco de jardim, aos pés de Jules. Descalçara-se. Anoitecia.

O rapaz da cartola não encontrara Dasha e o gato não dormira, vigiando a criança adormecida. A dado momento, Jules separara-se do rapaz da cartola, deixando-o terrivelmente frustrado e preocupado. Mas a jovem perdida desconhecia em que apuros o deixara, desconhecendo também em que sarilhos se iria meter, se a sua memória não lhe regressasse depressa.

Porque alguém a observava com interesse. E quando viu a rapariga descalça levantar-se do banco e abandonar o jardim, parecendo hesitante e algo insegura, os seus dedos desfazendo descuidadamente algumas flores, pagou o café que não chegara a beber para a continuar a seguir de forma discreta.

Na cozinha de Dasha, o esparregado queimara-se, sem ninguém que o vigiasse.
Afinal de contas, o gato ainda não aprendera a desligar o fogão.

(Moon / Cláudia)

Saturday, June 04, 2011

pipocas e pega-monstros [excerto]


Escorregam pela folha, bebendo-me, aquelas horas, as primeiras, em que te conheci pela segunda vez.
Deste-me um pacote de pipocas com sabor a morango e eu dei-te um ‘pega-monstros’. As ruas cheiravam a chuva e aos rostos de pedra eternos dos deuses na sua escuridão, mas nós ainda não as aprendêramos a descrever.
No bolso, em número que muito grande a nós nos parecia, rebuçados comprados no quiosque da praça a um escudo cada. Cinquenta escudos assemelhavam-se-nos a uma pequena fortuna, nesses dias, gasta em pastilhas elásticas e cromos e livros de banda desenhada.
E tínhamos nos lábios os mesmos sabores, morango, limão, laranja e maçã, enquanto jogávamos ao berlinde na terra enlameada. 
[...] 
Éramos, fomos, alquimia e alquimistas, ladrões de nêsperas dois meses por ano. [...]