Tuesday, June 01, 2010

Afasta-te. Traz-me vigília.

Dás-me beijos na alma
e eu, que não te minto,
que não me vendo, a troco de ternura explícita,
de carinho algum,
não os compreendo.

A noite é uma faca de lâmina bem afiada
encostada ao que não sou.
Anjos protegem-me, e as suas asas não devem ser de pedra,
porque, por tantas vezes, já me salvaram de me aniquilar,
já impediram dedos degradados de me agarrar
(na pele,
um leve arranhão apenas.)

Na minha superfície de mármore,
o ébano reluz
em espirais de papel amachucado.

Sinistras, estas vozes que agora se ouvem
restolhar pelo coração da noite;
dir-se-iam de feitiço ou de conjuro.
Conjuro blasfemo, sim, decerto,
encantamento de rosto perfeito pálido,
brando sorriso e punição.

... tudo me dói sem eu querer.

(20/05/2010)

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