Friday, October 29, 2010

notebook.#1 - um desenho por semana (ou algo assim)

. De vez em quando, gosto de rabiscar; e o gosto por aqueles caderninhos pequenos, que cabem dentro de um bolso, e' recente, mas já me deixou com comichão para o fazer mais frequentemente, e em qualquer lugar. Assim que, para combater a falta de actualizações neste blog, surge este pequeno hábito de postar, pelo menos uma vez por semana, um desenho. ^^

Saturday, October 23, 2010

(roxo :: pequena história por acabar) continuação

1ª parte aqui

“Onde esta’ Jules?”, perguntou Dasha, impaciente.
Mas o gato não lhe soube responder.


Jules estava, nesse preciso momento, a despedaçar um ramo de rosas púrpura. Há muito que se esquecera de como voltar para casa. Caminhava ao acaso pelas ruas da pequena cidade. A noite caía, trazendo tons violeta e laranja-dourados, ao mesmo tempo que um azul muito escuro era arrastado atrás de si, cobrindo tudo de modo quase imperceptível.
O seu cérebro, confuso, tentava desesperadamente recordar algo, mas esse algo escapava-se-lhe de cada vez que o quase conseguia apanhar.
Levantou-se do banco de jardim onde estivera uns minutos a descansar e encaminhou-se para sítio algum, um rasto de pétalas deixado atrás de si.


“Não vás”, pediu o gato, silencioso e preocupado.
“Tenho de ir, Baguera.” Dasha acariciou as orelhas do gato preto de cauda cortada e vestiu um dos seus casacos preferidos. “Até já”, soprou.
“E se a criança acordar?”, perguntou o pequeno bicho prateado de asas mecânicas. Pousara em cima do ombro de Dasha e esta transferiu-o com cuidado para a ponta dos seus dedos, de modo a olhá-lo de frente.
“Chamas-me. Pedes a alguém que me vá procurar.” Fez uma pausa, pensativa, e acrescentou: “E não a deixas sair desta sala.”


“Dasha… Dasha? Quem e´ Dasha?”, perguntava Jules ao estranho (um estranho que, curiosamente, lhe parecia deveras familiar) que a abordara, indagando pela rapariga. Tinha cabelo negro, era muito alto, de rosto belo, e brincava com uma cartola.
“A Dasha! Preciso falar com ela. Maldita demon…”
O estranho observava Jules, os olhos muito sérios dando lugar a uma expressão alarmada. Ele parou de brincar com a cartola e agarrou-a pelo braço, não sem alguma força, como se a quisesse trazer, somente com o seu toque, de volta `a realidade.
“Jules… Que te aconteceu? Porque não te lembras de Dasha?” A voz traía apreensão.
O nome de Dasha soava a Jules estranho mas próximo ao mesmo tempo.
“E de mim, lembras-te? Sabes quem sou?”


Vinho. Tinto. E três criaturas sob as estrelas, de mãos dadas. Duas raparigas e um rapaz. Um rapaz alto, de cabelo negro e um rosto bonito. Três lábios manchados de carmim. Rindo, falando, chorando, abraçando. Os três tão frágeis e, contudo, os três possuidores de uma força irresistível. Que atrai e repele de modo perigoso.
“Elai. Eu sou o Elai. O contador de histórias. Jules! O que quer que te tenham feito, volta! Combate, raios!”
Ele abraçou-a. Mas ela, mesmo assim, não se conseguiu lembrar.
“Vem comigo”, disse ele, pegando-lhe pelo pulso. E Jules deixou-se levar.


Entretanto, na pequena sala, a criança estava prestes a acordar. As asas mecânicas do estranho bicho prateado batiam muito perto, vigiando o seu sono. O gato subira para cima de uma pequena mesa redonda cheia de livros e dormitava, abrindo um olho de quando em quando, também de vigília `a criança deitada no sofá, após ter inspeccionado e tratado minuciosamente da limpeza das suas patas durante uns bons 15 minutos.

Dasha caminhava em passo rápido através do minúsculo bosque que separava o seu refúgio da pequena cidade. Normalmente, prestaria atenção aos sons que habitavam o bosque, deliciando-se com a dança das folhas nos ramos das árvores, as melodias de pássaros ocultos, o restolhar das folhas secas que pisava, as cores vibrantes e os cheiros a madeira e terra. Porém, desta vez, não havia tempo para tal.
Fez todo o caminho, questionando-se sobre onde Jules poderia estar e o que lhe poderia ter acontecido para nem sequer se ter lembrado de que tinha o esparregado ao lume…

Tuesday, October 19, 2010

aquele cão preto


Naquela praça antiga, havia uma árvore de tronco negro cor de fuligem em noite escura. A sua textura era macia, e um assombro para alguém que a tocasse.


Quer de noite quer de dia, as sombras nela habitavam, por vezes de olhos vermelhos. Das pedras da calçada emergiam as raízes, também essas de tom obscuro, que serpenteavam, despenteadas, em qualquer direcção que lhes apetecesse, levantando o chão.


Aquela árvore, dizia-se, transformava-se num enorme cão preto em noites de lua nova; espreguiçando-se, alongava-se pelas paredes e pelos becos mais esconsos e sombrios, fazendo com que os habitantes daquele lugar se esquecessem do que iam fazer à rua, momentos antes, em quase estranho encantamento.


Naquelas noites, o cão negro vadiava, liberto.

Mas não havia qualquer motivo para se sentir receio.


Era a árvore, desentorpecendo as patas.