Tuesday, October 19, 2010

aquele cão preto


Naquela praça antiga, havia uma árvore de tronco negro cor de fuligem em noite escura. A sua textura era macia, e um assombro para alguém que a tocasse.


Quer de noite quer de dia, as sombras nela habitavam, por vezes de olhos vermelhos. Das pedras da calçada emergiam as raízes, também essas de tom obscuro, que serpenteavam, despenteadas, em qualquer direcção que lhes apetecesse, levantando o chão.


Aquela árvore, dizia-se, transformava-se num enorme cão preto em noites de lua nova; espreguiçando-se, alongava-se pelas paredes e pelos becos mais esconsos e sombrios, fazendo com que os habitantes daquele lugar se esquecessem do que iam fazer à rua, momentos antes, em quase estranho encantamento.


Naquelas noites, o cão negro vadiava, liberto.

Mas não havia qualquer motivo para se sentir receio.


Era a árvore, desentorpecendo as patas.

2 comments:

The White Riddler said...

Adoro. Adoro. Adoro.

The White Riddler said...

ADORO!