Sunday, January 03, 2010

o anjo que te envenena



O anjo disse, de pés descalços:
− Abraça-a, abraça-a muito. Faz dela teu veneno.
E eu disse:
− Não posso, porque o veneno é doce, mas mortal. E tem a sabor a chocolate, sabias?
E o anjo disse, mais uma vez, tentador:
− Mas prova, só um bocadinho… Que mal te fará?
Ao que eu respondi:
− Não, porque é muito; é muito chocolate, e não pode ser, não posso, não consigo… Não há sangue que aguente tanto e tão doce.
E o anjo disse, ainda de pés descalços, depois de descer do muro onde estava sentado:
− És tola. És tola porque não queres sentir.
Colheu uma flor pequenina e colocou-ma no cabelo. E continuou:
− É veneno, sim. Mas, e se for daquele que faz bem?

Envenenas o anjo?, perguntaram.
Não. O anjo é que me envenena, retorqui.

Envenena o anjo, disseram-me então. O anjo que te envenena é um anjo caído.
Não importa. É o meu anjo.

(São os meus anjos.)

2 comments:

The White Riddler said...

"− Mas prova, só um bocadinho… Que mal te fará?"

cao said...

nem todas a sereias deviam cantar..

as que surgem do fundo da rua..
sao lindas,
contudo nos podem enfeitiçar..levam-nos para o precipicio e fazem apostas de quem deve morrer..talvez,seja esta a forma de acreditar em anjos..ou entao..nao acredito em nada..nem mesmo nas sereias..as mesmas, aquelas que ouvi cantar,...


um beijo.