Saturday, October 23, 2010

(roxo :: pequena história por acabar) continuação

1ª parte aqui

“Onde esta’ Jules?”, perguntou Dasha, impaciente.
Mas o gato não lhe soube responder.


Jules estava, nesse preciso momento, a despedaçar um ramo de rosas púrpura. Há muito que se esquecera de como voltar para casa. Caminhava ao acaso pelas ruas da pequena cidade. A noite caía, trazendo tons violeta e laranja-dourados, ao mesmo tempo que um azul muito escuro era arrastado atrás de si, cobrindo tudo de modo quase imperceptível.
O seu cérebro, confuso, tentava desesperadamente recordar algo, mas esse algo escapava-se-lhe de cada vez que o quase conseguia apanhar.
Levantou-se do banco de jardim onde estivera uns minutos a descansar e encaminhou-se para sítio algum, um rasto de pétalas deixado atrás de si.


“Não vás”, pediu o gato, silencioso e preocupado.
“Tenho de ir, Baguera.” Dasha acariciou as orelhas do gato preto de cauda cortada e vestiu um dos seus casacos preferidos. “Até já”, soprou.
“E se a criança acordar?”, perguntou o pequeno bicho prateado de asas mecânicas. Pousara em cima do ombro de Dasha e esta transferiu-o com cuidado para a ponta dos seus dedos, de modo a olhá-lo de frente.
“Chamas-me. Pedes a alguém que me vá procurar.” Fez uma pausa, pensativa, e acrescentou: “E não a deixas sair desta sala.”


“Dasha… Dasha? Quem e´ Dasha?”, perguntava Jules ao estranho (um estranho que, curiosamente, lhe parecia deveras familiar) que a abordara, indagando pela rapariga. Tinha cabelo negro, era muito alto, de rosto belo, e brincava com uma cartola.
“A Dasha! Preciso falar com ela. Maldita demon…”
O estranho observava Jules, os olhos muito sérios dando lugar a uma expressão alarmada. Ele parou de brincar com a cartola e agarrou-a pelo braço, não sem alguma força, como se a quisesse trazer, somente com o seu toque, de volta `a realidade.
“Jules… Que te aconteceu? Porque não te lembras de Dasha?” A voz traía apreensão.
O nome de Dasha soava a Jules estranho mas próximo ao mesmo tempo.
“E de mim, lembras-te? Sabes quem sou?”


Vinho. Tinto. E três criaturas sob as estrelas, de mãos dadas. Duas raparigas e um rapaz. Um rapaz alto, de cabelo negro e um rosto bonito. Três lábios manchados de carmim. Rindo, falando, chorando, abraçando. Os três tão frágeis e, contudo, os três possuidores de uma força irresistível. Que atrai e repele de modo perigoso.
“Elai. Eu sou o Elai. O contador de histórias. Jules! O que quer que te tenham feito, volta! Combate, raios!”
Ele abraçou-a. Mas ela, mesmo assim, não se conseguiu lembrar.
“Vem comigo”, disse ele, pegando-lhe pelo pulso. E Jules deixou-se levar.


Entretanto, na pequena sala, a criança estava prestes a acordar. As asas mecânicas do estranho bicho prateado batiam muito perto, vigiando o seu sono. O gato subira para cima de uma pequena mesa redonda cheia de livros e dormitava, abrindo um olho de quando em quando, também de vigília `a criança deitada no sofá, após ter inspeccionado e tratado minuciosamente da limpeza das suas patas durante uns bons 15 minutos.

Dasha caminhava em passo rápido através do minúsculo bosque que separava o seu refúgio da pequena cidade. Normalmente, prestaria atenção aos sons que habitavam o bosque, deliciando-se com a dança das folhas nos ramos das árvores, as melodias de pássaros ocultos, o restolhar das folhas secas que pisava, as cores vibrantes e os cheiros a madeira e terra. Porém, desta vez, não havia tempo para tal.
Fez todo o caminho, questionando-se sobre onde Jules poderia estar e o que lhe poderia ter acontecido para nem sequer se ter lembrado de que tinha o esparregado ao lume…

1 comment:

The White Riddler said...

está brutal brutal brutal !!
nem sei que apontar de ter gostado mais !
e tip, tens de continuar que eu quero saber o k aconteceu à Jules !

o final desta parte tá um máximo X)